Histórico
O Movimento Brasil Laico surgiu como um movimento nas redes sociais em 2018, criado por um grupo de quatro amigos de Recife, ex-evangélicos, que costuma se reunir pelo menos uma vez ao ano, desde a adolescência: Leandro Patricio, Ian Jorge, Francisco Barbosa e Jefferson Silvestre. A decisão se deu no encontro de dezembro de 2018, após a vitória de Bolsonaro nas urnas em outubro, com apoio decisivo de políticos e líderes evangélicos conservadores, que transformaram impunemente seus púlpitos em palanques para discursos político-partidários.
O grupo de amigos de Recife idealizava naquela ocasião, de forma ambiciosa, um movimento que fosse capaz de superar a pulverização da luta pelo Estado laico, fragmentada nas bandeiras dos movimentos lgbtqia+, feminista, afro-religioso, ateu, etc., visando realizar um trabalho de reunião das lideranças desses movimentos para fazer pressão pela regulamentação do Estado Laico no Brasil.
A vitória de um presidente machista, misógino, homofóbico, representava a vitória de anos de escalada do projeto de poder evangélico-conservador, que vinha aparelhando há alguns anos os poderes legislativo e executivo, em nível local e estadual, e o Congresso Nacional através de “bancadas evangélicas” que atuaram e atuam obstruindo pautas progressistas, perseguindo lgbtqia+, feministas, afro-religiosos, entre outros, e usando a máquina para privilegiar os grupos religiosos ao qual pertencem. Foi nesse contexto que em 17 de dezembro de 2018 foi criada a página do Facebook “Movimento Brasil Laico”.
Com foco inicial em fazer advocacy pelo Estado Laico, a página virou um espaço de denúncia intrépida e ácida da propaganda eleitoral em templos religiosos e de exposição sistemática de escândalos envolvendo políticos e líderes evangélicos representantes deste projeto de poder, desmascarando a homofobia, o machismo, a misoginia e o preconceito (contra lbtqia+, mulheres, afro-religiosos, ateus, etc.) disfarçado de “liberdade religiosa” e “defesa da família” e o privilégio a grupos evangélicos conservadores pelo poder público disfarçado de “apoio à cultura”.
Os seguidores e seguidoras mais ativas da Página foram recrutados pelo grupo de amigos de Recife para moderar grupos estaduais criados no Facebook e vinculados à Página. Em 02 de agosto de 2019 foi um criado um grupo de WhatsApp com vários integrantes do Brasil, mas só em 07 de junho de 2020, um domingo - num contexto marcado pela irresponsabilidade de muitas igrejas com a pandemia do coronavírus - aconteceu a primeira reunião virtual, com 26 pessoas de várias cidades e estados do país. Seria a primeira de várias reuniões até a assembleia de fundação da Associação Movimento Brasil Laico em 05 de junho de 2021.
Durante muito tempo havia o medo de aparecer, seja por parte do grupo de amigos de Recife - o grupo nuclear - como por parte dos que iam chegando, pois as críticas da Página eram muito contundentes, o que lhe garantiu receber alguns ataques de milícias digitais no sentido de derrubá-la. Muitos dos integrantes do Movimento Brasil Laico eram professores e alguns trabalhavam em ambientes onde seus chefes eram evangélicos reacionários, bolsonaristas, defensores do “Escola sem partido”, entre outras pautas reacionárias. Os integrantes do movimento que eram do Rio de Janeiro possuíam ainda mais medo devido à ligação de vários grupos evangélicos conservadores com as milícias e o tráfico.
Ao longo de 2022, a Associação passou a integrar a Subcomissão Especial Laicidade e Liberdade Religiosa, do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e ingressou com 11 representações no Ministério Público Federal e de vários Estados contra prefeitos, governadores, deputados, senadores e o próprio presidente da república, e lideranças religiosas que investiram contra o Estado laico. Realizou a Campanha de Fomento à Fiscalização e Denúncia da Propaganda Eleitoral em Templos Religiosos, ingressando também no Ministério Público Eleitoral contra várias instituições e lideranças religiosas que atuaram como cabos eleitorais, tendo recebido providências exitosas em várias delas.
Atualmente a associação conta com 50 associados e associadas, distribuídos em 10 estados, mais o Distrito Federal, dos quais 14 são fundadores. Embora boa parte seja de professores e professoras, existem advogados, assistentes sociais, psicólogos, historiadores, pedagogos, comerciantes, pessoas de outras profissões e um juiz federal. Os trabalhos da associação são realizados mais ativamente por uma equipe de 9 associados e associadas, todos voluntários. Sua forma de sustento provém exclusivamente das contribuições dos seus associados, associadas e simpatizantes da causa.