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Foto do escritorSimone Andrea

CULTURA Os Sete Pecados Capitais





Acessando a BBC hoje pela manhã, encontrei por acaso uma imagem com um título que me chamaram a atenção, Is this the proudest island? (É esta a ilha mais orgulhosa?)

O vídeo, sobre o orgulho, faz parte de uma playlist, The Seven Capital Sins.

Mas o que são os sete pecados capitais? Qual a sua origem? Que importância podem ter para nós, laicos?

Celebrizados na Divina Comédia, obra-prima de Dante Alighieri, os chamados 7 pecados capitais não têm origem na Bíblia. Surgiram pela primeira vez numa lista elaborada pelo monge asceta grego Evagrius Ponticus (345-399), com a finalidade de combater os vícios que corromperiam as pessoas e deveriam ser evitados. Em 590, o Papa Gregório I (540-604) escreveu a sua própria lista. Porém, os atuais sete pecados capitais - luxúria, orgulho, preguiça, inveja, gula, avareza e ira - resulta da Suma Teológica, de 1273, escrita por São Tomás de Aquino.

No mundo cristão, os sete pecados foram representados em todas as artes: na pintura, Os Sete Pecados Mortais, de Hyeronimus Bosch (c. 1505-1510), A Casa Dissoluta, de Jan Steen (anos 1660), A Adoração de Baco, George Cruikshank (1860-1862), Vaidade, Frank Cadogan Cowper (1907); na música popular, a ira aparece em Look Back in Anger, de David Bowie, a luxúria em Bewitched, Bothered and Bewildered, de Rodgers e Hart, só para citar alguns exemplos. No cinema, Seven, com Morgan Freeman e Brad Pitt.

Pecados são o oposto de virtudes. Essa polaridade impregnou a moral, nos costumes, as leis. A Filosofia. A política. Bem e mal, justo e injusto, certo e errado.

Valores.

Será que os Estados laicos e as sociedades seculares ocidentais livraram-se dos valores inculcados pela moral cristã?

Certamente não o Brasil, cuja laicidade, apesar de garantida nas Constituições desde 1891, sofre ataques que se intensificam à medida que mais e mais candidatos a cargos eletivos usam a religião como plataforma política e os templos como palanques eleitorais. Um Brasil patriarcal, autoritário, semi-letrado e violento, que se recusa a se secularizar.

Nesse ambiente, recorrer a um deus pai, todo-poderoso, que aterroriza os crentes com terríveis castigos como punição pelos pecados, vem a calhar.

No chamado Primeiro Mundo a tensão entre razão crítica e consciência mágica persiste. O casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda é proibido em países como Bolívia, Paraguai, Venezuela, Ucrânia, Geórgia, Rússia. Em 2022, a Suprema Corte dos Estados Unidos reverteu o precedente de 1973, Roe vs. Wade, que reconhecia o direito à interrupção voluntária da gravidez. Justices (os equivalentes dos Ministros do nosso Supremo Tribunal Federal) oriundos da direita religiosa estadunidense conduziram os votos responsáveis pelo overruling.

A condenação ao sexo como fonte de prazer - luxúria - continua longe de ser superada. Exemplo disso é a repulsa, alegadamente baseada na ética ou nos direitos humanos, a políticas de redução da fecundidade, sobretudo à esterilização cirúrgica, ainda que voluntária. A razão crítica questiona: o laissez faire nessa área, privando seres humanos, sobretudo mulheres, de conhecimentos e meios eficazes de evitar filhos, não fere a dignidade humana? Não reduz mulheres, quase sempre miseráveis, à condições análogas às de animais?

Essas são algumas das perguntas decorrentes da questão principal:

Até que ponto nós, laicos, nos livramos dos valores religiosos calcados na polaridade pecado-virtude?

Assistam à playlist da BBC, especialmente ao vídeo Wrath - Ira.










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