A quinta temporada da série britânica The Crown estreou na última quarta-feira (8.11). Vale a pena assistir ou rever a série desde o começo. Além dos diálogos verossímeis e atuações de primeira, o enredo provoca uma séria reflexão sobre a laicidade do Estado.
Embora na Grã-Bretanha prevaleça há bastante tempo ampla liberdade de crença e descrença, a Coroa britânica é unida à Igreja da Inglaterra, e a cabeça coroada exerce a chefia suprema e o papel de defensora da fé anglicana. Dito isto, não somente os clérigos, mas também os políticos britânicos esperam do rei ou da rainha a mais estrita aderência às regras da Igreja da Inglaterra. Uma dessas regras era a que não permitia que pessoas divorciadas se casassem novamente, enquanto o ex-cônjuge ainda estivesse vivo.
Essa união entre Igreja e Estado forçou a abdicação do Rei Eduardo VIII, em 1936, após apenas 326 dias de reinado. Ele queria se casar com Wallis Simpson, em vias de obter o segundo divórcio. A maioria dos parlamentares britânicos da época se opôs ao casamento, alegando que seu cargo de Defensor Supremo da Igreja impossibilitava o casamento com uma mulher divorciada. Eduardo preferiu abdicar e casar-se com Wallis Simpson.
A interferência religiosa na vida dos membros da família real se repetiria em outras ocasiões. A Princesa Margareth não obteve o consentimento para se casar com o aviador divorciado Peter Townsend. O establishment britânico resistiu ao divórcio entre o Príncipe e a Princesa de Gales, que só ocorreria em 1996.
Somente em 2002 o órgão conservador da Igreja da Inglaterra aceitou que seus sacerdotes celebrassem novos casamentos com pessoas divorciadas e com ex-cônjuges vivos, após três tentativas frustradas de reforma.
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