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Foto do escritorLeandro Patricio

Luis Tenderini e a fundação de Movimento Brasil Laico

Movimento Brasil Laico foi criada em Recife por integrantes e ex-integrantes ativos da instituição que Luis Tenderini comandou por 26 anos

Luis Tenderini, no jardim da Escola Luis Tenderini, 2019.


Luigi Tenderini, em italiano, ou Luís Tenderini, na forma brasileira, como preferia ser chamado, foi, sem dúvida, aquele que mais ajudou a criar as condições para fundar Movimento Brasil Laico, tendo sido também seu maior apoiador. A Associação foi criada em Recife por integrantes e ex-integrantes ativos da instituição que comandou por 26 anos: Trapeiros de Emaús Recife. A instituição é filiada ao movimento Emaús Internacional, hoje presente em 40 países, através de mais de 400 organizações.

 

Trapeiros de Emaús Recife funcionou como uma espécie de incubadora, não só das ideias e do encontro das pessoas que deram origem ao Movimento Brasil Laico, mas da própria criação da associação. A  assembleia de fundação de Movimento Brasil Laico, em 05.06.2021, realizada com apoio e entusiasmo de Luís - que só não esteve presente devido às recomendações médicas de isolamento social que recebeu, por integrar o grupo de risco na pandemia do covid-19 - aconteceu no interior das dependências de Trapeiros de Emaús Recife, especificamente no espaço que leva o seu nome: a Escola Luis Tenderini.


Assembleia de fundação de Movimento Brasil Laico em 05.06.2021. Da direita para a esquerda: Ian Jorge, Francisco Barbosa, Leandro Patricio, Carlos Cardeal, Bruno Quenafles.


Italiano, Tenderini foi um grande defensor dos direitos humanos durante e depois da ditadura civil-militar no Brasil. Devido ao seu engajamento político, chegou a ser sequestrado, preso e torturado, com choques elétricos e através do “pau de arara”, no DOI-CODI de São Paulo. Amigo próximo de Dom Helder Câmara, presidiu, sob sua indicação, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese do Recife. Em março de 1989, após denunciar na imprensa local a ação dos grupos de extermínio (os chamados esquadrões da morte), sofreu outro sequestro, sendo novamente torturado.

 

Luis tinha apenas 25 anos quando, em 1968, deixou a Itália para vir ao Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro. Jesuíta, os planos de continuar seu caminho para se tornar sacerdote acabaram tomando outros rumos, por uma série de questões, entre as quais, o fato de, em apenas duas semanas de sua chegada,  ter recebido a notícia, em Teresina-PI, de que havia sido decretado o AI-5, conhecido como “o golpe dentro do golpe” no regime civil-militar.

 

No Brasil dominado pelos militares, Luís tornou-se metalúrgico e aderiu aos movimentos sindicais e populares que lutavam por direitos sociais negados pelo regime ditatorial.  Participou ativamente dos movimentos operários católicos, assessorados por Dom Paulo Evaristo Arns, os quais foram embriões da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina.

 

Em 1979, Luís recebeu um convite de um grupo de trabalhadores do Recife, do CTC (Centro de Trabalho e Cultura), instituição da qual se tornaria educador,  e se mudou com a sua família para a capital de Pernambuco, onde também foi um dos fundadores do CENAP (Centro de Educação Popular do Nordeste), do CENDHEC (Centro de Estudos Dom Helder Câmara), além da própria Associação dos Trapeiros de Emaús Recife.

 

Luís casou-se e teve três filhas do primeiro casamento, do qual ficou viúvo, vindo a se casar novamente mais tarde. Faleceu em 2022, aos 79 anos, devido a complicações de uma leucemia contra a qual lutava desde 2021. A notícia de sua morte teve ampla repercussão na imprensa local e internacional (Itália), mobilizando várias instituições e representantes da classe política a emitirem notas de pesar pelo seu falecimento.

 

Ainda em vida, chegou a receber o título de cidadão honorário do Recife e recebeu, da Presidência da República Italiana, o reconhecimento “Estrela da Solidariedade” na classe “cavaleiro”. Trapeiros de Emaús, associação que fundou em Recife, em 1996, chegou a receber o Título de Utilidade Pública Municipal, concedido pela Câmara de Vereadores do Recife, a Medalha João Alfredo, do Tribunal Regional do Trabalho e a Medalha Leão do Norte, Mérito Ambiental, da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.

 

Através dos Trapeiros de Emaús, Luis proporcionou o encontro de Leandro Patricio, Francisco Barbosa, Ian Jorge e Carlos Cardeal - a maioria ainda adolescente - todos ex-alunos dos cursos profissionalizantes promovidos pela instituição e futuros integrantes do grupo nuclear que daria origem ao Movimento Brasil Laico em Recife. Na instituição, Francisco foi instrutor do curso de eletricidade, tendo sido também coordenador dos cursos durante vários anos. Carlos foi instrutor do curso de Informática, tendo sido vice-presidente da associação durante um mandato. Leandro, o mais próximo de Luis Tenderini e com o qual conviveu por mais tempo, foi professor de educação política, tendo chegado a ser diretor secretário da instituição e diretor pedagógico da Escola Luis Tenderini, uma convivência de 20 anos.


Luis Tenderini e Leandro Patricio na Escola Luis Tenderini, 2020.


O ambiente crítico, proporcionado pelas aulas de educação política, que Tenderini transportou do CTC para o interior da Escola dos Trapeiros de Emaús Recife, e mesmo a convivência com ele, possibilitou a formação intelectual de base dos jovens que, oriundos do meio evangélico fundamentalista, do qual se desligaram, passaram, não apenas a questionar as implicações e os impactos do imbricamento entre religião e política, como pensar em soluções para enfrentá-lo. O ambiente criado por Tenderini, católico progressista e defensor do Estado laico, desempenhou assim papel importante na ideação e na fundação de Movimento Brasil Laico.

 

 

Fonte:

 

 

 

 

 

 

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